NOVA SÉRIE DA TNT, "RUA AUGUSTA" TERÁ PRIMEIRA CENA DE SEXO TRANS DO PAÍS




Ao som de rock pesado, a stripper Mika (Fiorella Mattheis) flana pela pista de dança da boate Hell, enquanto beijos rolam entre todos os sexos e o dono do estabelecimento cheira pó no andar de cima. De repente, a jovem é golpeada no abdômen pelo próprio irmão com uma garrafa de vidro quebrada.

 O agressor, com que ela já teve uma relação incestuosa, tenta então extorquir os seguranças para driblar a polícia. Nada dá certo. Em outra cena, uma stripper negra seduz e transa com um jornalista apenas por diversão, pouco antes de voltar para aos braços do namorado.

 É desta maneira que o público será apresentado ao universo de “Rua Augusta”, primeira série de ficção da TNT produzida no Brasil que estreia nesta quinta (15). Resvalando em temas ligados à diversidade, o episódio de meia hora de duração retrata o submundo de drogas, sexo e violência da noite paulistana. Milhem Cortaz, Rodrigo Pandolfo e Jonathan Haagensen estão no elenco. 

Quem assina a direção são os paulistas Pedro Morelli (“Entre Nós” e “Zoom”) e Fábio Mendonça (“A Noite da Virada" e “Pedro e Bianca”), da produtora O2, que à pedido da TNT adaptou para o universo brasileiro a série israelense Allenby St. (2012), que mostra a vida noturna da principal rua da capital Tel Aviv. 

A trama de “Rua Augusta” circunda a personagem de Fiorella, em seu primeiro papel como protagonista, começando dez anos após ela sair de casa e reencontrar o irmão. Agora uma stripper que trabalha e se diverte no epicentro da boêmia, passado e presente se entrelaçam.


Baseado em série de Israel

 Segundo Pedro Morelli, apesar de o episódio piloto apenas reproduzir a cena de violência contra a mulher do original, o retrato de temas ligados a minorias e à diversidade sexual, com a inclusão de personagens negros e trans, foi uma escolha deliberada.

 “Não dá para perceber muito bem no primeiro episódio, mas a gerente da balada é uma transexual. Ela vai aparecer bastante e terá um caso com outros personagens. Teremos cenas de sexo trans”, revela ao UOL o diretor, que afirma ter se inspirado filmes e cineastas mexicanos como “Amores Brutos” (2000) e “21 Gramas” (2003).

 “Diretores como o Iñárritu, Alfonso Cuarón e o Guillermo del Toro estão dominando Hollywood. Posso dizer que bebi da fonte dos filmes mais antigos do Iñárritu, que interliga personagens em uma linguagem mais intensa e visceral”, conta.

 A produção quer arejar o incipiente universo das séries brasileiras com uma pegada mais underground, realista e sem a fetichização do sexo, típica de produções do gênero. A ideia é mostrar a vida como ela ainda é no centro de São Paulo: suja, confusa e perigosa, com o sexo e drogas pairando pelas esquinas.

 Mas para que tudo isso fizesse sentido no Brasil, foi preciso adaptar o discurso. “O piloto é parecido com o original, mas depois mudamos muita coisa na história e nos personagens. Temos outros valores aqui no Brasil. O clima do original é mais frio, melancólico, ligado à religião. Mostramos um lado bem mais sexy, caloroso e violento.”



Fiorella na Augusta 

Para encarnar Mika, uma jovem de classe média que vira stripper (e prostituta) para fugir de fantasmas familiares, Fiorella se debruçou em um laboratório que durou cerca de um mês nas imediações da rua Augusta da vida real.

 Nos “inferninhos” do centro de São Paulo, conheceu e trocou ideias com mais de 30 prostitutas que a ajudaram a compreender as parcas expectativas e as imensas angústias de uma profissional da noite. Coordenada por Chico Acioly, a preparação incluiu aulas de pole dance com a performer Natasha Vergílio.

 “Não me inspirei em nenhuma atriz ou série específica", conta Fiorella, que se diz à vontade com as cenas de dança e sexo. “Tentei buscar dentro de mim essa mulher, da forma mais genuína e natural possível. Como o roteiro é bem amarrado, eu tinha muitas informações sobre o passado da Mika, o que ajudou muito na composição.”

 Segundo a atriz, esse jeito “sóbrio” de lidar com temas controversos foi o que mais a atraiu no projeto. “Filmamos de maneira muita intuitiva, com uma câmera só, como no cinema, e a história ia surgindo e se transformando conforme a gente ensaiava e rodava”, lembra.

 “Acho que quanto mais a gente puder falar de assuntos que até pouco tempo atrás eram velados, melhor para todo mundo. Informação é tudo. Com ela, conseguimos lidar melhor com as diferenças e respeitar o próximo acima de tudo. A gente faz um mundo melhor para todo mundo.”

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